sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

RESENHA | O Homem de Giz – C.J. Tudor

Livro: O Homem de Giz
Autora: C.J. Tudor
Tradução: Alexandre Raposo
Editora: Intrínseca
Páginas: 272
Assassinato e sinais misteriosos em uma trama para fãs de Stranger Things e Stephen King
Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes.
Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás.
Alternando habilidosamente entre presente e passado, O Homem de Giz traz o melhor do suspense: personagens maravilhosamente construídos, mistérios de prender o fôlego e reviravoltas que vão impressionar até os leitores mais escaldados.
Só algumas crianças. Só uns amigos. Só crianças aos 12 anos, andando de bicicleta e vivendo as aventuras que se vive nesta idade. Tudo muito simples, até o dia em que nada é tão simples. Em 1986, Eddie e seus amigos, aos 12 anos de idade, tinham seu próprio código secreto e eles eram feito por meio de homenzinhos de giz rabiscados no chão. Cada um tinha sua cor de giz. Mas então aparece um homenzinho de uma cor diferente, branca. Nenhum deles usava esta cor. Os homens de giz branco parecem indicar algum lugar e eles seguem e então encontram. Encontram os pedaços do corpo de uma garota. Ela tinha sido esquartejada e a cabeça tinha sumido.
Agora, em 2016, 30 anos depois e já com 42 anos, Eddie tenta esquecer do passado. A cabeça da garota nunca fora encontrada e com uma solução para o crime que não parece verdadeira, as pessoas parecem ter esquecido. Mesmo que não seja como antes, mesmo que seus amigos não fossem mais tão amigos assim, cada um tentou seguir da sua forma, mas quando começam a receber mensagens misteriosas com o homem de giz, tudo parece voltar. E depois de que um dos amigos morrem, Eddie percebe que tem muito mais para desvendar. Ele precisa descobrir a verdade. Precisa descobrir quem é o homem de giz.
Não tem como esconder ou fazer mistério: O Homem de Giz é um dos livros mais brilhantes que já li. Este livro é aquele livro que consegue ser bom do início ao fim e que a cada página que vira você só se pergunta porquê não o leu antes.
"Se o nosso mundo fosse um globo de neve, esse foi o dia em que algum deus o pegou, sacudiu com força e colocou de volta no lugar. Mesmo depois de a espuma e os flocos terem assentado, as coisas nunca mais voltaram a ser como antes. Não exatamente. Podiam parecer iguais para quem olhasse através do vidro, mas, por dentro, tudo estava diferente."
Eddie é o protagonista da história. Ele é um verdadeiro protagonista. Não porque ele é apaixonante ou porque a gente o ame. Talvez muito pelo contrário. Ele é um protagonista porque consegue se fazer estar nesta história. Narrado em primeira pessoa, vemos tudo pela sua perspectiva e sabemos que não é confiável, mas é um protagonista que consegue entrar na sua mente. Ele é intenso, irritante e muitas vezes questionável, mas estamos presos a história que ele está nos contando e em momento algum não desejamos que seja ele que esteja nos contando esta história.
"Há certas coisas na vida que se pode alterar – o peso, a aparência, até o próprio nome –, porém há outras que são imutáveis, independentemente da força de vontade, do esforço e do trabalho árduo. São estas coisas que nos moldam: não as que podemos mudar, mas as que não podemos."
O Homem de Giz tem sim um protagonista incrível como disse acima, mas é um livro com muitos personagens e mesmo que não roubem o lugar do protagonista, são tão interessantes quanto. Muitas vezes, quando se tem vários personagens em uma história, eles acabam se tornando personagens sem importância e muitas vezes sem personalidade e se tem algo que não acontece neste livro, é isso. Não posso citar todos os personagens, então vou falar deles em geral porque todos são muito importantes, interessantes e tem muita personalidade, o que é incrível e só torna a história ainda mais rica porque podemos explorar e imaginar tanto que nossa mente muitas vezes se perde no quão grande são cada um dos personagens de O Homem de Giz.
"Ter princípios é algo bom. Se você puder bancá-los. Gosto de pensar que sou um homem de princípios, mas, no fim das contas, a maioria dos homens acha que é. O fato é que todos temos um preço, todos temos botões que podem ser pressionados para nos levar a fazer coisas que não são de todo honradas. Princípios não pagam a hipoteca nem quitam nossas dívidas. Princípios são uma moeda sem valor na rotina do dia a dia. Em geral, um homem de princípios é alguém que tem tudo o que quer ou não tem absolutamente nada a perder."
Como falei, a história é narrada em primeira pessoa e se divide entre o passado e o presente – 1986 e 2016 –, intercalando os capítulos entre o Eddie de 12 anos e o de 42. O melhor é que não conseguimos escolher qual é o melhor, se é ele criança ou adulto, porque as duas partes da história são incríveis, as duas são brilhantes e as duas, além de nos darem respostas, também levantam perguntas. Todavia, uma das coisas mais brilhantes é que a autora conseguiu distinguir muito essas duas épocas e esse protagonista que em uma narração é apenas um criança e na outra já é um adulto. A gente conseguia saber qual era qual apenas pela narração, escrita e por detalhes de época. Ela realmente não se perdeu e conseguiu nos entregar cada ponto perfeitamente.
"Ser uma boa pessoa tem a ver com a maneria como você trata os outros. As pessoas boas não precisam de religião, porque sabem em seu íntimo que estão fazendo a coisa certa."
O Homem de Giz é um livro que está lidando com a realidade a sua volta. Seja a realidade 1986 ou a de 2016. É um livro que não está focado só no protagonista e nos assassinatos, ele mostra ao redor e com isso fala sobre temas polêmicos, como o aborto. Mas calma, não é aquele livro que vem para falar sobre o tema, é um livro que lida com a realidade, mostra que existe e é muito interessante a forma como vamos vendo isso. Além de nos mostrar as diferenças entre as épocas, mostra que não evoluímos em tudo e o que era polêmico no passado, continua sendo um tabu agora.
"Preciso acordar. Nesse instante. Mas não consigo. Não desse sonho. Alguns sonhos, como certas coisas na vida, têm que seguir seu rumo. E, mesmo se eu acordasse, o sonho voltaria. É o que sempre acontece com esse tipo de sonho, até que alcance o âmago e corte duas raízes podres."
Eu quase nunca falo sobre a edição de um livro, mas é necessário falar sobre a edição deste. Tudo neste livro é tão incrível, inclusive a sua edição e não só porque é capa dura, não só porque é mesmo linda, mas por tudo. Esta edição é incrível e merece ser falada porque diz tanto sobre a história. Eles foram cuidados e detalhistas em tudo só para nos dar em capa, páginas e detalhes tudo o que é O Homem de Giz. E, fora a edição, é necessário elogiar o quão brilhante e talentosa é a escritora deste livro, C.J. Tudor, que em seu primeiro livro, mostrou o quão fascinante pode ser sua escrita e mostrou o que é um suspense de verdade, que consegue dar pistas e deixar o leitor ainda mais confuso, fazendo perguntas e procurando respostas, devorando até a última página do livro, sem conseguir parar. Ela fez do seu trabalho uma obra verdadeiramente magnífica.
"Eu a puxei e a abracei o mais forte que consegui, como se pudesse espremer toda a dor para fora dela, embora uma pequena parte de mim se perguntasse se, às vezes, esquecer não era um ato de bondade.
Talvez o que matasse fosse lembrar."
Se alguém me perguntar quais são os livros mais incríveis que já li na minha vida, com certeza O Homem de Giz estará entre eles, pois mesmo não sendo um gênero que eu esteja acostumada a ler, me mostrou o quão impressionante ele pode ser. Talvez eu sempre vá ficar meio perdida falando dele, porque ainda estou absorvendo tudo o que ele é, mas com certeza sempre me lembrarei do quão fascinante foi lê-lo.
"Mão. Nenhum de nós está realmente preparado para a morte. Para algo tão definitivo. Como serem humanos, estamos acostumados a controlar nossas vidas. A estendê-las até certo ponto. Mas a morte não aceita argumentos. Nenhum apelo final. Nenhum recurso. Morte é morte, e ela detém todas as cartas. Mesmo que a enganemos uma vez, ela não vai nos deixar blefar na segunda." 

ADQUIRA

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